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Futsal BR: Às vésperas do último jogo, Falcão avalia carreira e legado no futsal: Tudo valeu a pena

04 de dezembro de 2018 às 17:46:18


Foram pouco mais de duas décadas, 100 títulos, recordes, dribles desconcertantes e a construção de uma história para a eternidade. Aos 41 anos, Falcão deixa o legado de ser o principal nome da história do futsal e um dos atletas mais vitoriosos da história do esporte mundial. A despedida dele talvez tenha para os fãs o mesmo sabor amargo que algumas das inúmeras vítimas tiveram após um drible ou lance genial do craque ao longo dos anos. A lacuna deixada por Falcão dificilmente será preenchida, mas como ele mesmo diz: "A história está feita e foi escrita da melhor maneira possível".

Ao GloboEsporte.com, Falcão contou em detalhes o drama vivido nos últimos anos para conseguir jogar. A idade trouxe ao craque lesões que causaram incômodo, choro e um sentimento de incapacidade jamais sentido para um jogador acostumado a decidir, vencer e ser o principal artista do espetáculo chamado futsal. E isso foi determinante para Falcão optar em viver, viver sem a cobrança e rotina diária em busca do alto rendimento. Afinal, não é necessário provar mais nada a ninguém.

– A gente nunca imagina que vai chegar a hora e o momento, mas acredito que, se tem um momento certo, é agora. Sou privilegiado de ter chegado com 41 anos jogando em alto nível. No meio do ano tive uma lesão chata, aí vi como é sofrer com lesão e ter recuperar, fazer fisioterapia e tomar injeção para jogar. Em um esporte de alto rendimento, se você não treinar todos os dias, sempre terá que correr atrás e eu que não gosto do mais ou menos, sempre fui vencedor. Colocava a bola de baixo do braço e falava: 'deixa pra mim'. Agora o corpo não responde mais. Então, esse é o momento de parar – conta.

"Colocava a bola de baixo do braço e falava: 'deixa para mim'. Agora o corpo não responde mais. Então, esse é o momento de parar", disse Falcão.

Os problemas físicos de Falcão se agravaram em 2015, quando uma lesão entre o joelho e a panturrilha limitaram os movimentos, fazendo o craque praticamente mudar o seu estilo de jogo. O balde de água fria veio nesta temporada, com uma inflamação no osso calcâneo, que tem feito Falcão apelar para sessões diárias de fisioterapia e injeções para poder firmar o pé no chão. Jogar em alto rendimento? Algo muito raro.

– As dores e injeções fazem parte da carreira de um atleta, mas são coisas esporádicas. A partir do momento que virou uma rotina para que conseguisse colocar o pé no chão e entrar em quadra, começou atrapalhar muito meu corpo, estourou espinha, acabei engordando por conta de muita injeção para jogar nem 15 minutos e sem alto rendimento. É uma exposição negativa, nunca me preocupei com isso porque a história está feita, sempre quis ajudar de alguma forma e consegui fazer isso em muitos momentos. O planejamento de vida também, as dores me fizeram enxergar de outra forma. Quantos eventos deixei de fazer e agora posso, até porque não é um alto rendimento, no jogo de exibição você consegue controlar tudo isso. Quero rodar o mundo fazendo grandes eventos – explica.

Todas as dificuldades para seguir jogando reforçaram a ideia de aposentadoria na cabeça de Falcão.

– No meu lado comercial estou vivendo um momento muito bacana, e no lado pessoal também. Mas o lado profissional vinha atrapalhando o meu dia a dia. Como ser humano estava totalmente impossível viver com isso. Acredito que a consciência bateu e é o momento certo, mas a tristeza fica. Toda profissão você vai até quando puder e o atleta tem seu prazo de validade. Olhando toda minha geração, os atletas pararam com 37 ou 38 anos, cheio de dores, eu consegui chegar aos 41 jogando dentro de um alto nível. A história está feita e foi escrita da melhor maneira possível, mas nos últimos dois anos foi bem difícil lidar com o dia a dia – completa.

Principais títulos de Falcão por clubes:

Estaduais: 13
Nacionais: 9
Sul-Americanos: 7
Libertadores: 7
Mundial de clubes: 2

O último palco que verá Falcão em ação será justamente o que viu os primeiros passos da ainda promessa do futsal: o ginásio Wlamir Marques, no Parque São Jorge. Nesta quinta-feira, às 19h, apenas um time que conta com Falcão pode ter esperança de reverter uma derrota de 7 a 3 em casa para poder erguer a taça de campeão da Liga Paulista. Além de vencer no tempo normal, o Sorocaba precisará derrotar o Corinthians na prorrogação, para aí sim dar ao craque um título no jogo de despedida no esporte que o abraçou, reverenciou e o tornou ídolo.

– Sou privilegiado porque meu último jogo na seleção foi no lugar que mais joguei, em Jaraguá do Sul, fiz dois golaços. Minha última partida deve ser no Parque São Jorge, o lugar que comecei e joguei minha primeira competição profissional, que foi uma Liga Paulista e meu primeiro título como profissional pela camisa do Corinthians. Parece que o final está sendo muito legal, espero que termine com título, mas se não for também vai ser num lugar que tenho grandes lembranças, quando tinha 15 anos e os golaços que eu fazia quando era moleque. Tenho certeza que são os momentos certos, nos lugares certos – relembra.

Principais títulos pela seleção:

Copa do Mundo: 2
Grand Prix: 11
Copa América: 5

E o que será do futsal brasileiro sem Falcão? A pergunta que ronda os amantes do esporte é motivo de preocupação para o craque. Sem enxergar um nome que possa substituí-lo, Falcão busca convencer Leandro Lino, Marcel e Bateria a terem maior preocupação em assumirem o protagonismo. E isso passa pela renúncia deles em atuar fora do Brasil. O futsal que já teve Manoel Tobias, Vander Iaconivo, Choco, Douglas, Lenísio, entre outros, está carente e à procura de um protagonista.

– Sei da minha importância para o meu esporte, antes do Falcão e depois do Falcão. Não é egocentrismo e, sim, realidade, comprovada por fatos e números. O futsal chegou num pico e agora tem essa preocupação de perder sempre um pouco e voltar lá na estaca zero. Nenhum esporte vive sem ídolos. Acredito que na geração do Douglas, Jackson e chegou Manoel Tobias, Fininho, Choco, depois Falcão, Lenísio, Simi e agora a gente não vê. Existe uma geração que aparece e vai embora, por isso não está na boca das pessoas. Quando começa estar na boca das pessoas, eles vão embora. Tem o Bateria e o Marcel, meninos bons e eles vão embora, acredito que essa seja a preocupação. O Leandro Lino é um menino que venho conversando muito para que fique no Brasil e assuma essa responsabilidade que tive. Espero que a nova geração tenha identidade com o público, isso chama patrocinadores e faz com que o esporte tenha sua vida útil naturalmente – projeta Falcão.

Por fim, Falcão fez um balanço dos anos em que brigou contra as lesões ao mesmo tempo em que buscava manter o alto nível e prolongar a carreira. Apesar da luta, da derrota parcial para os problemas físicos, o sentimento é de missão cumprida. E o craque tratou de fazer um convite para o projeto de "aposentadoria": rodar o Brasil e o mundo fazendo jogos exibição.

– Eu paro de jogar profissionalmente para me divertir ainda mais. Meu incentivo em sempre melhorar e jogar no ginásio cheio, retribuir o carinho que eles esperam, com jogadas e tudo que eu sempre fiz da melhor maneira possível e que nos últimos anos vinha sendo difícil, devido a uma lesão que eu tive em 2015, até aquele período eu consegui me divertir, colocar a bola de baixo do braço e falar: 'daqui que eu vou resolver' e poder alegrar muita gente. Fica a história profissional para trás e que a diversão comece, continuo contando com vocês para lotar os estádios do Brasil e do mundo. Obrigado por tudo!.

Nós que agradecemos, Falcão. Obrigado, Rei do Futsal!

Fonte: Emilio Botta – globoesporte.com / Foto: Yuri Gomes

 

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